Na sociedade contemporânea muitos são os futuros pais, cujas motivações mais ou menos inconscientes para se tornarem pais podem associar-se, entre outros factores, a quererem dar continuidade ao nome da família, deixando uma marca da sua existência.
Os aspirantes a pais poderão igualmente pensar, que esta será uma oportunidade de se colocarem à prova, descobrindo se serão capazes de exercer este novo papel.
Para além disso, poderão desejar ser finalmente aceites como adultos ou até, reparar as feridas de uma infância infeliz.
E, como no senso comum, as pessoas vão dizendo que ter filhos é o melhor do mundo, muitos são aqueles que, em busca de uma compensação afectiva ou para aliviar as frustrações vividas, esperam obter somente prazer da relação com os filhos, tendo pouca consciência dos cansaços, decepções e sofrimentos que a tarefa de educar implica.
Assim, existem pais que acreditam que o nascimento de um filho será, salvo raros momentos, uma experiência cor-de-rosa, esquecendo-se que dessa experiência, todas as cores farão parte e que é para toda a vida, não havendo lugar para posteriores arrependimentos.
Por conseguinte, quando surge um filho, este traz à superfície todas as dificuldades e incompreensões sentidas pelos pais na sua infância, despoletando-se fortes emoções.
Acontece então, que muitos pais apesar de ainda continuarem a sofrer por se sentirem mal-amados e no fundo, vítimas de sentimentos de raiva por parte dos seus progenitores, acabam por repetir os gestos que criticavam nestes, através de mensagens desvalorizantes, humilhações ou punições, que poderão atingir as proporções de maus-tratos graves, repetindo um ciclo intergeracional de violência, com consequências bastante nefastas na estruturação da personalidade da criança.
Por outro lado, os pais poderão ficar desiludidos quando a criança idealizada não corresponde à criança real, pois quando projectaram ter um filho imaginaram que este seria perfeito, criando falsas expectativas.
Com efeito, o desejo de ter um filho poderá ter subjacente o sonho de casais, que eventualmente até planearam a gravidez, mas que não estão suficientemente maduros para conseguirem lidar com as angústias e dificuldades que esta mudança traz nas suas vidas.
Neste contexto, é provável que a ausência de uma estabilidade emocional nos pais, crie o terreno propício para a ocorrência de grandes turbulências na relação com os filhos, que se não forem atempadamente resolvidas, irão afectar o bem-estar de ambos.
A fim de evitar desfechos trágicos, apela-se a que os futuros pais antes de tomarem esta importante decisão, o façam em consciência plena, de forma a que este acontecimento tão único e gratificante, não se venha a tornar no seu pior pesadelo!
* Psicóloga infantil